Retomamos a emissão, mantendo a mesma linha editorial desalinhada de sempre


Dormi pouco no fim-de-semana e isso deixa-me rabugenta. Não por ser segunda-feira, mas apenas porque precisava que hoje fosse domingo outra vez. Deixei de me queixar do tempo, dos inícios da semana e de outras coisas, com as quais aprendi a conviver ao longo do último ano. Ainda faltam largas semanas para as minhas férias de Verão, as grandes, e aparentemente estou bem com isso. Parece que cresci, dizem-me. Não é que as coisas me tenham deixado de aborrecer, claro que não. Apenas ganhei a capacidade de olhar para elas com outros olhos, ou atribuir-lhes a importância devida nas alturas certas. Ou nunca. Há coisas às quais deixei mesmo de dar importância. O trabalho continua o mesmo, muito, cada vez mais, mas já não me aborreço com as pessoas. Rio mais. Aprendi a relativizar. Durante o Inverno aproveitei todos os fins-de-semana para pôr anos de sono em dia, tarefa que consegui desempenhar com uma taxa de sucesso de quase 98 % (noventa e oito por cento? nunca soube bem como enquadrar os números na escrita) Passei meses sem sair à noite e não senti falta de o fazer. Aproveitei também para arrumar, limpar, pintar e decorar a casa nova, projecto que se prolongou pela Primavera fora, e que continua a ocupar-me parte do Verão. Entretanto, já troquei candeeiros, tapetes e disposição algumas vezes. Já passaram 4 estações, já avariámos o autoclismo e fundimos umas lâmpadas, já exterminei uma praga de bichos inofensivos e transparentes que me tiraram do sério, já limpámos as janelas todas mais do que uma vez, o que me tem deixado a pensar: ao fim de quanto tempo é que deixamos de chamar nova há casa que habitamos há muitos, muitos meses? Voltei a fazer croché (crochet?), e parece-me que é desta que finalmente transformo lã em algo de concreto. Começou por ser nada e, sem que pensasse muito no assunto, transformou-se numa manta para usar quando o tempo voltar a esfriar. Imagino-a no braço da cadeira do escritório, ou dobrada, arrumada no topo da escrivaninha, ao lado das fotos. Cheia de cores, a minha manta de restos. Parecemos lagartas em metamorfose colectiva e sincronizada. Há casas novas, filhos nas barrigas das amigas, casamentos para os que ainda acreditam na tradição, negócios giros e novos e bons. E já me perdi no que estava a escrever, mas já não estou assim tão rabugenta quanto estava no inicio. Gostava apenas que fosse domingo outra vez.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.